Com o crescimento das plataformas de streaming audiovisual, o alto consumo dos assinantes reflete na constante necessidade de levar novidades aos catálogos.
Encontrando uma grande vertente de histórias interessantes dentro da literatura, as grandes empresas investem pesado na aquisição dos direitos autorais de livros para desenvolverem adaptações televisivas, método este já conhecido nos cinemas e que vem crescendo exponencialmente nos últimos anos.
Agentes literários relataram ao The Bookseller que muitas das vezes os direitos estão sendo adquiridos ao mesmo tempo que as editoras.
Este é um grande exemplo de como os profissionais estão dispostos a investir na história em seus rascunhos iniciais, antes mesmo de passar pela editoração. Em entrevista, Jordon Moblo, diretor do departamento da Netflix responsável por encontrar obras literárias que possam ser adaptadas, explicou:
“Tem tantas adaptações bem-sucedidas recentemente, e com o sucesso dessas adaptações vem a demanda por mais. Além disso, há muito mais compradores de livros para tela no mercado do que há cinco a 10 anos atrás e, com o surgimento de streamers, houve um aumento na demanda por conteúdo original. Isso também resultou em produtores e estúdios investindo mais recursos na identificação e aquisição de propriedade intelectual – incluindo a contratação de olheiros de livros terceirizados e executivos internos especializados no mercado de livro para tela – o que, por sua vez, deu a todos maior acesso aos livros e IP que talvez não tivessem antes.”
A estimativa é que as adaptações televisivas das obras literárias aumentam cada vez mais, Luke Speed, responsável pela aquisição de direitos de adaptação para cinema na agência Curtis Brown, informou que cerca de 60% dos grandes projetos televisivos atuais são baseados em histórias literárias. Isso é bastante notório nos grandes sucessos presentes nos streamings, como Bird Box (2018), Para Todos os Garotos que já Amei (2018), Bom Dia, Verônica (2020), The Witcher (2019), Anne With an ‘E’ (2017), entre outros previstos para serem lançados ao longo de 2022.
Com o forte interesse e investimentos de plataformas de streaming como Netflix, HBO Max, entre outras, a esperança dos autores nacionais em visualizar suas histórias nas telas também crescem. Com dois anos de estreia na literatura e vencedora de premiações literárias, Vanessa Guimarães, autora de “Beijo de Borboleta” e “Os Outros”, informa que seus leitores relatam que ao ler suas obras sentem a sensação de acompanhar uma série audiovisual. “Esse boom nas plataformas de filmes e séries possibilita, não só o acesso a histórias incríveis e que não tiveram a visibilidade merecida nos livros, como a promoção de novos autores, sobretudo os nacionais, não só aqui como em outros países”, conta.
No Brasil, a realidade muda aos poucos, principalmente com os grandes sucessos de Raphael Montes na Netflix e Amazon Prime Video, e os romances best-sellers que aos poucos dominam as telas. Para Vanessa Guimarães, o preconceito contra os escritores nacionais pode ser um fator potencial para esse atraso, principalmente pelo baixo consumo de livros em território brasileiro. “
Assim como aconteceu no mercado cinematográfico, ainda existe um grande preconceito com a literatura nacional. Vejo que esse conceito vem sendo derrubado ao longo dos anos, mas no que diz respeito à literatura, ainda temos que lidar com questões ainda mais profundas, como a falta de incentivo à leitura de uma forma geral. O que piora ainda mais a situação.”, conclui.
Com o crescimento das adaptações televisivas das obras literárias, o mercado editorial brasileiro pode ser influenciado positivamente no aumento das vendas de livros. Muitos espectadores buscam conhecer os universos apresentados nas telas e iniciam sua jornada dentro da literatura, sendo as adaptações uma grande porta para que crianças, jovens e adultos conheçam o mundo mágico das narrativas literárias.